A saga de Agenor e Filó, a capivara que conquistou o Brasil

A história de Agenor Tupinambá e a capivara Filó capturou o coração de milhões no Brasil e no mundo, tornando-se um símbolo da relação entre humanos e a vida selvagem. O que começou como uma amizade inusitada e cheia de carinho em Autazes, no Amazonas, rapidamente se transformou em um debate acalorado sobre a posse de animais silvestres, direitos ambientais e a influência das redes sociais. A saga de Agenor e Filó não é apenas uma história de afeto, mas também um espelho das complexidades legais e éticas que envolvem a interação com a natureza.

Tudo começou quando Agenor, um jovem estudante de agronomia e produtor rural, começou a compartilhar em suas redes sociais a convivência com diversos animais silvestres resgatados em sua propriedade. Entre patos, porcos e outros bichos, Filó, uma capivara filhote, destacava-se. Ela havia sido encontrada abandonada durante uma enchente e foi acolhida por Agenor, que a amamentou e cuidou com dedicação. Os vídeos e fotos de Filó seguindo Agenor para todo lado, nadando com ele no rio e até mesmo o acompanhando em tarefas diárias, viralizaram rapidamente. A espontaneidade e a ternura da relação conquistaram a internet, transformando Filó em uma celebridade e Agenor em seu “pai” humano.

No entanto, a visibilidade nas redes sociais trouxe consigo a atenção de órgãos fiscalizadores. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em abril de 2023, autuou Agenor Tupinambá por, entre outras acusações, “exploração de imagem de animal silvestre” e “manutenção em cativeiro de animal silvestre sem autorização”. A multa imposta foi de cerca de R$ 17 mil, além da determinação para que Filó fosse entregue a um centro de tratamento de animais silvestres.

A notícia da autuação gerou uma onda de indignação e mobilização nas redes sociais. Fãs da dupla iniciaram a campanha #SalveAFiló, argumentando que a capivara estava sendo bem cuidada e que separá-la de Agenor seria um ato de crueldade. Muitos defenderam que a situação de Agenor era um caso de resgate e não de exploração, ressaltando o carinho e o tratamento que Filó recebia. A história ganhou repercussão nacional, com celebridades e influenciadores se manifestando em apoio a Agenor.

Diante da pressão popular e da complexidade do caso, o processo legal se arrastou. Agenor, com o apoio de advogados, recorreu da decisão do Ibama. A defesa alegava que Filó, por ter sido criada desde filhote por Agenor, havia desenvolvido um laço profundo com ele e que sua soltura na natureza, sem o devido preparo, poderia ser prejudicial à sua sobrevivência. Argumentava-se também que Agenor, ao resgatar e cuidar da capivara, agiu com base em princípios de proteção animal, mesmo sem ter o registro formal necessário para a manutenção de animais silvestres.

Após semanas de incerteza e batalha jurídica, uma decisão da Justiça Federal do Amazonas trouxe um alívio temporário. A Justiça concedeu a guarda provisória de Filó a Agenor Tupinambá, em meados de maio de 2023. A decisão levou em consideração o bem-estar do animal e o laço afetivo comprovado entre os dois. No entanto, a guarda foi concedida com uma série de condições, como a proibição de explorar a imagem de Filó para fins comerciais e a obrigação de apresentar relatórios periódicos sobre a saúde e o desenvolvimento da capivara. O Ibama, por sua vez, continuou defendendo que o local mais adequado para Filó seria um centro de reabilitação, visando sua futura reintegração à natureza.

A história de Agenor e Filó, embora tenha tido um desfecho provisório favorável à convivência dos dois, levantou importantes questões sobre a legislação ambiental brasileira e a crescente interação entre humanos e animais silvestres. O caso evidenciou a necessidade de discutir as nuances da lei, especialmente em regiões onde o contato com a fauna é mais comum devido à proximidade com ambientes naturais. Também ressaltou o poder das redes sociais em mobilizar opiniões e influenciar desfechos, tanto para o bem quanto para o mal.

Atualmente, Agenor Tupinambá continua morando em Autazes com Filó, compartilhando ocasionalmente momentos da vida da capivara em suas redes sociais, mas com maior cautela e respeito às determinações judiciais. A capivara cresceu e parece desfrutar de uma vida plena ao lado de seu cuidador. A saga de Agenor e Filó permanece como um lembrete complexo de que a proteção animal e a paixão por ela nem sempre são claras, e que a linha entre o carinho e a legalidade pode ser tênue. O caso continua sendo um estudo de caso relevante sobre a intersecção entre o direito ambiental, a ética animal e a esfera digital.

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