Ametista do Sul, Rio Grande do Sul – Uma operação conjunta entre a Delegacia de Polícia de Proteção ao Meio Ambiente (Dema) e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) resultou na desarticulação de um criatório clandestino de animais exóticos na última quinta-feira, 26 de junho. A ação, que ocorreu em uma propriedade rural de Ametista do Sul, revelou uma intrincada rede de criação e possível comercialização ilegal de diversas espécies, e as investigações apontam para o uso de plataformas de mensagens como o WhatsApp para a divulgação e negociação dos animais.
A investigação teve início há alguns meses, a partir de denúncias que indicavam atividades suspeitas em uma área isolada do município, conhecido por suas minas de ametista. A Dema, especializada em crimes ambientais, iniciou um trabalho de monitoramento e levantamento de informações que culminou na obtenção de um mandado de busca e apreensão. O sigilo da operação foi crucial para garantir o elemento surpresa e a efetividade da ação.
Ao adentrar a propriedade, as equipes policiais e técnicas da Sema se depararam com um cenário que confirmava as suspeitas iniciais. Em recintos improvisados e, muitas vezes, em condições inadequadas, foram encontrados exemplares de diversas espécies. A catalogação preliminar, realizada por biólogos do Sema, apontou a presença de serpentes, tanto não-peçonhentas quanto peçonhentas, aves tropicais de espécies ameaçadas, répteis variados e pequenos mamíferos, muitos dos quais não são nativos do bioma gaúcho. A quantidade exata e a identificação precisa de cada animal ainda estão sendo detalhadas pelos especialistas.
A descoberta de um criatório desse porte evidencia a dimensão do problema do tráfico de animais silvestres. Além de ser uma atividade criminosa que impacta diretamente a biodiversidade, a manutenção de animais exóticos em cativeiro sem o devido manejo oferece riscos sanitários e de segurança pública. Doenças podem ser transmitidas e acidentes com animais potencialmente perigosos são uma preocupação constante.
Os animais resgatados, alguns visivelmente debilitados e estressados pelas condições de cativeiro, foram imediatamente encaminhados para um centro de triagem e reabilitação sob os cuidados da Sema. No local, eles receberão avaliação veterinária, passarão por um período de quarentena e, se as condições permitirem, serão reintroduzidos em seus habitats de origem. Aqueles que não tiverem condições de retornar ao ambiente natural serão destinados a santuários ou zoológicos credenciados, garantindo seu bem-estar.
A participação ativa da Secretaria Estadual do Meio Ambiente foi fundamental para o sucesso da operação. A expertise técnica da Sema em manejo de fauna complementou a capacidade investigativa da Dema, permitindo uma abordagem abrangente e eficaz no combate a esse tipo de crime ambiental. A atuação conjunta dos órgãos demonstra o compromisso com a proteção da fauna silvestre e a repressão de atividades ilícitas.
Um dos pontos mais relevantes da investigação é a constatação do uso de aplicativos de mensagens, como o WhatsApp, para a divulgação e negociação dos animais. A análise dos materiais apreendidos no local, que incluiu telefones celulares, computadores e documentos, revelou que os investigados compartilhavam fotos e vídeos dos animais capturados e criados, utilizando esses registros para atrair compradores e fechar negócios de forma clandestina. Essa prática facilita a lavagem de dinheiro e a rápida movimentação dos animais, dificultando o rastreamento pelas autoridades.
No local, a polícia apreendeu uma série de documentos, equipamentos e materiais que corroboram a sofisticação do esquema. Foram encontrados cadernos com anotações sobre a comercialização, registros de transações financeiras e até mesmo indícios de tentativas de simular licenças e certificações falsas para a venda dos animais. A propriedade possuía, ainda, um sistema de monitoramento por câmeras e cercas, indicando a preocupação dos criminosos em evitar a detecção.
Três pessoas foram detidas em flagrante na propriedade. As identidades dos indivíduos não foram divulgadas para não prejudicar o andamento das investigações. Eles serão indiciados por crimes contra a fauna, previstos na Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98), que estabelece penas de detenção e multas elevadas. A polícia não descarta o envolvimento de outras pessoas e organizações no esquema, tanto na cadeia de fornecimento quanto na de distribuição dos animais, e as investigações continuam para identificar todos os elos dessa rede criminosa.
Ametista do Sul, com sua vocação turística e sua rica biodiversidade, agora enfrenta um problema que transcende as fronteiras municipais. O tráfico de animais silvestres é uma atividade lucrativa e transnacional, que movimenta bilhões de dólares anualmente e é considerada uma das maiores atividades criminosas do mundo. A operação em Ametista do Sul serve como um alerta para a urgência de intensificar a fiscalização e a conscientização sobre a importância da proteção da fauna e do combate a esse crime.
A Dema e a Sema reforçam o apelo à população para que continue denunciando atividades suspeitas relacionadas ao tráfico de animais. Informações, mesmo que anônimas, são cruciais para desmantelar essas redes criminosas. A investigação em Ametista do Sul prossegue, e novas informações devem ser divulgadas nos próximos dias, à medida que a polícia aprofunda as análises dos materiais apreendidos e dos depoimentos colhidos. A expectativa é que a ação sirva de exemplo e desestimule a prática desse crime tão devastador para o meio ambiente.
Pingback: Arara-Azul: A realidade por trás do filme "Rio" - Curiosa Fauna
Pingback: 10 Fatos insanos sobre o ornitorrinco - Curiosa Fauna