O Quero-Quero: Conheça o guardião alado dos campos

O quero-quero (Vanellus chilensis), também conhecido como tetéu, abibe-do-sul ou sentinela dos campos, é um dos pássaros mais icônicos e onipresentes da América do Sul. Com sua plumagem predominantemente branca e preta, pernas longas e avermelhadas e um inconfundível grito que parece repetir seu próprio nome, o quero-quero é uma figura familiar em pastagens, campos abertos, margens de rios e até mesmo em áreas urbanas. Mas por trás de sua aparência elegante e seu comportamento territorial, esconde-se um universo de curiosidades que o tornam uma das aves mais fascinantes do continente.

1. O nome e o grito característico

A origem do nome “quero-quero” é onomatopaica, ou seja, imita o som que a ave emite. Seu chamado agudo e repetitivo, “quéro-quéro-quéro”, é uma marca registrada e serve tanto para alertar outros da espécie sobre a presença de predadores quanto para demarcar território. Essa vocalização intensa, especialmente durante a temporada de reprodução, é o que o torna tão facilmente identificável, mesmo para leigos.

2. A asa com espinho: Uma arma surpreendente

Talvez a característica mais notável do quero-quero seja a presença de um esporão pontiagudo em cada asa, localizado na articulação do “ombro” da ave. Esse esporão, que pode atingir até 3 centímetros de comprimento, não é apenas um adorno; é uma arma eficaz. O quero-quero o utiliza com destreza para defender seu ninho e seus filhotes de intrusos, sejam eles predadores naturais, como cobras e aves de rapina, ou até mesmo humanos desavisados. Voando em rasante, a ave ataca com precisão, desferindo golpes que, embora raramente causem ferimentos graves, são suficientes para afastar a ameaça.

3. Um mestre na defesa territorial e no engano

O quero-quero é extremamente territorial, especialmente durante o período de nidificação. Seu comportamento defensivo é lendário. Ao se aproximar de um ninho, é comum observar o quero-quero realizando voos rasantes e mergulhos acrobáticos, acompanhados de seus gritos estridentes. Ele também emprega táticas de distração: pode fingir estar com uma asa quebrada, arrastando-se pelo chão para desviar a atenção do predador para si e para longe do ninho. Uma vez que a ameaça se afasta, ele retoma o voo normal, ileso. Essa inteligência e estratégia na defesa de sua prole são admiráveis.

4. O ninho simples, mas estrategicamente posicionado

Os ninhos do quero-quero são surpreendentemente simples. Consistem em uma pequena depressão no solo, muitas vezes em campos abertos e sem vegetação densa. Essa escolha de local, que à primeira vista pode parecer vulnerável, é estratégica. A falta de cobertura permite que o quero-quero tenha uma visão desimpedida de seu entorno, facilitando a detecção precoce de predadores. Os ovos, geralmente em número de três a quatro, são de coloração camuflada, com manchas que os ajudam a se misturar ao ambiente e escapar da detecção.

5. Pais dedicados e o cuidado com os filhotes

Tanto o macho quanto a fêmea participam ativamente da incubação dos ovos e do cuidado com os filhotes. Após a eclosão, os filhotes de quero-quero são precoces, o que significa que nascem com os olhos abertos, cobertos por uma penugem densa e são capazes de andar e se alimentar por conta própria em poucas horas. No entanto, permanecem sob a vigilância constante dos pais, que os protegem de predadores e os guiam em busca de alimento, geralmente insetos e pequenos invertebrados. A dedicação dos pais é notável, com ambos se revezando na guarda e na defesa.

Leia também: Caramelo: A esperança resgatada das águas gaúchas

6. Adaptabilidade e presença urbana

Apesar de sua preferência por ambientes abertos, o quero-quero demonstra uma notável capacidade de adaptação. É comum encontrá-lo em parques urbanos, praças, jardins e até mesmo em canteiros de avenidas, desde que haja alguma área verde e alimento disponível. Essa resiliência e a capacidade de coexistir com a presença humana contribuíram para sua ampla distribuição e para a familiaridade que as pessoas têm com essa ave.

7. Um indicador da chegada da chuva?

Em algumas regiões, existe a crença popular de que o quero-quero é um presságio da chuva. Observa-se que, em dias de calor intenso ou antes de uma mudança climática, a ave pode se mostrar mais agitada e vocalizar com maior frequência. Embora não haja comprovação científica formal para essa lenda, a sensibilidade do quero-quero às condições atmosféricas e a sua relação com o ambiente natural podem ter contribuído para a criação dessa crença.

O quero-quero, com seu comportamento destemido e suas estratégias de sobrevivência, é um verdadeiro ícone da fauna sul-americana. Mais do que um simples pássaro, é um lembrete da inteligência e da complexidade da natureza, sempre pronto para defender seu lar e sua família com bravura e astúcia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *